Anatomia na endodontia. Molar com 3 canais terminando num forame.
Muitas vezes, manobras clínicas simples nos permitem sanar dúvidas que podem ocorrer durante o tratamento.
Nesse molar inferior com 3 canais, durante a prova do cone, apenas um conseguia chegar ao comprimento de trabalho desejado. Ao remover esse cone, o outro atingia o comprimento e os outros dois não, o mesmo acontecendo com o terceiro cone. Essa manobra nos permite concluir que os três cones terminam em apenas um forame.
Anatomia na endodontia. In: Marceliano-Alves MFV, Miyagaki DC, Linden MSS, Brasil SC, Dantas WCF, Alves FRF. Compêndio Multidisciplinar em Odontologia 1: 45-51.
INTRODUÇÃO
Os objetivos da terapia endodôntica são a remoção de restos orgânicos, a sanificação e a obturação tridimensional dos canais radiculares. Em trabalho clássico da literatura endodôntica, Schilder40 (1974) introduziu o conceito cleaning and shaping, ou seja, limpar e modelar o canal radicular, reafirmando a importância do afunilamento contínuo do terço cervical até o apical, com a manutenção do formato original e da posição do forame.
A realização destes passos somente é possível com o conhecimento da anatomia da cavidadepulpar, de seus aspectos normais e, principalmente, de suas variações, fatores estes que norteiam a abertura coronária, a localização dos canais e a instrumentação. As variações da morfologia levam ao empregoda expressão ‘sistema de canais radiculares’ (SCR) e, em razão de este estar em comunicação direta com os tecidos perirradiculares por meio de ramificações apicais, canais colaterais, acessórios, deltas, conexões intercanal, a falta de conhecimento da diversidade anatômica é uma das principais causas de insucesso do tratamento.
Em dentes com canais retos, a aplicação dos princípios de Schilder40 (1974) é menos crítica; porém, em canais curvos, dependendo do grau de curvatura, as dificuldades aumentam e podem resultar em acidentes, como: desvio do trajeto original do canal, perfurações, zip, rasgos e degraus. Um dente que possui canais curvos e apresenta a maior frequência de tratamento endodôntico é o primeiro molar inferior; assim, o conhecimento de sua anatomia interna é imperativo49. Estes dentes apresentam uma raiz mesial e outra distal, mas podem apresentar uma raiz acessória na região distolingual. Na raiz mesial, normalmente são encontrados dois canais (mesiovestibular e mesiolingual), mas podem-se identificar de um a três canais. A raiz distal tem normalmente um canal, mas pode apresentar dois.
Barker et. al.4, em 1969, após estudo anatômico em primeiros molares inferiores, relataram um caso de um primeiro molar inferior com a raiz mesial com três canais separados. Consideraram ainda que variações de forma e de número de canais são maiores nas raízes mesiais, que aparecem como múltiplos canais e com comunicações entre si.
Como visto, as raízes mesiais de molares inferiores podem apresentar um, dois ou três canais e dependendo da anatomia pode se configurar como uma dificuldade durante o preparo do canal. Outra complexidade destes dentes é a projeção cervical de dentina na parede proximal nas raízes mesiais que aumenta com o tempo pela deposição de dentina secundária. Tal estrutura leva à redução mesiodistal da câmara pulpar, dificultando a localização da entrada dos canais. Esta, somada à curvatura do canal, pode restringir o movimento da lima e produzir efeito de alavanca, culminando com o desgaste na parede externa da curvatura no terço apical e na parede interna nos terços cervical e médio.
Anatomia na endodontia.